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[Conto] Meu Filho

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A visão de uma mãe... Desde que eu era criança, tinha uma imensa vontade de ser mãe. Quando brincava sozinha com minhas bonecas ou quando brincava com minhas amiguinhas, sempre querendo ser a mãe. E quando me casei não tinha outra coisa em que pensar, além do meu marido: ter um filho. Depois de dois meses de casada começaram os sintomas da gravidez. Fiz o exame e foi confirmado o que já sabia. Crescia dentro de mim o sonho que sempre alimentei. Eu estava muito feliz. Sempre passando a mão na barriga, acariciando, contando histórias para uma pessoa que um dia sabia que iria conhecer. Uma pessoinha que previamente conheci antes mesmo de ela chegar. Depois de alguns meses soubemos o sexo: um menino. Era meu sonho se concretizando, pois já lhe tinha o nome na mente, desde sempre. Paulo. As dores também vinham me assaltar, mas não se comparavam à alegria que não conseguia traduzir. Acho que o que mais se aproxima do que existia dentro de mim era a frase “padecer no paraís...

[Conto] Esquecimento Gradativo

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Nota: Neste conto em particular tive a necessidade de dispor da ajuda de mais dois narradores. Cada um com uma tarefa especial. Temos um narrador-onisciente, um narrador-observador e o mais importante deles, o narrador-personagem.  Os dois ajudantes são limitados, por isso tentarei ser fiel à visão de cada um, pois em alguns casos, um deles não poderá narrar. Esquecimento Gradativo Capítulo 1             “Certas coisas começam bem pequenas, imperceptíveis às vezes. Numa manhã ao sair de casa, pensei que havia fechado a porta e o portão de casa. Qual surpresa foi a minha ao chegar em casa e ver minha esposa irritada dizendo que deixei ambos abertos. Acreditei que fosse um caso isolado, corriqueiro, a pressa algumas vezes nos cega, pensava. Mas não foi um caso isolado. Tudo começou neste dia, foi exatamente neste dia que comecei a perder meu cérebro. Como operava num caixa bancário, não foi difícil começar ...

[Poema] Distância

Ouço tua voz Distante, mas ainda ouço Estar perto é impossível Pensei que me esquecerias se eu não voltasse... Não posso ficar em tua cabana Ouvindo poemas Chorando teu choro E rindo teu riso Não posso mentir para mim Nem para ti... Desfiz-me tal qual uma nuvem Desfigurei-me tal qual um suicida Como se diz: Um mal necessário Mas ainda lembro de ti...

[Poema] Melodia Para Quem Precisa

Nem sempre é fácil como parece O tempo não cura tudo como dizem Tentar me esconder é o que resta Perder até é uma escolha Pois não há mais nada A se fazer.... O vento sopra oposto A mão amiga não está lá É sempre noite atrás da janela E chove quando estou na rua... Uma voz surge Entoando lirismo Entre rimas e acordes Mas estou triste Sem saber muito o que fazer A vida não é a mesma Ou então eu que me moldei a ela Não era assim antes Nunca foi assim... Então aquela voz agradável Fura meu pensamento e diz: - Não perca quem você é. Não traia a si mesmo Você pode até perder tudo Mas não perca a fé em você. Sonhar ainda é bom Não pare quando ainda é cedo. Há muito pela frente E quando você estiver lá Olhará para trás e verá Todo o medo e derrota, Toda a escuridão sombria, A fraqueza voraz, A falta de coragem, A vergonha que te enudece, Olhando você distante Sem poderem te alcançar. Siga sim Ainda é tempo Força, amigo Tente só uma vez mais. E co...

[Poema] Um Poema Antes da Meia-Noite

Não me trate como se deve tratar um amor real, Pois não sou real. Sou palavra aos teus olhos, Desejo insaciável, sou bom e sou mau. Não me tome como fácil, pois fácil não sou, Sou metódico e amante. Um eterno horizonte, sombrio e amoroso, Sempre plano e vacilante. Sou teu tudo e nada, Para sempre um desejo de algo irrealizável. Sou o verme, sou o belo, o brilho nos olhos, Imponderável. Vou-me, mas te deixo o sonho, o sono, o descanso Deixo uma música repleta de ilusão, E também minha alma desencanto de sonhos Em tua mão...

[Conto] A Arte do Acaso

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Decidi que era o momento de jogar algumas coisas fora. E procurando qualquer coisa dispensável nas minhas gavetas descobri algo: uma carta. Um envelope pardo, sem remetente, nem selo. Mas havia meu nome nele: Para Bianca. Alguém o havia colocado ali. Nas primeiras linhas descobri de quem era. E as linhas seguintes me fizeram chorar muito. Capítulo 1 Era um tempo triste, de solidão profunda, um vazio de cores e inspiração. Desses dias em que a gente pensa em acabar com tudo num simples gesto. Sentara no banco do parque para observar os transeuntes. Estava tão ligado à rotina do trabalho, que já não era artista, mas um técnico da arte. Havia me esquecido de certos prazeres que a natureza pode proporcionar à imaginação. Perceber o simples farfalhar das folhas das árvores, nos seus variados tons de verde, o canto mavioso dos pássaros cinzas e azuis, os patos brancos boiando no lago, crianças com seus sorrisos puros brincando de bola, alguns fazendo seu cooper matinal, em d...

[Poema] Vil

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Aqui não tem chão comum A multidão passa gritando Mas eu ouço somente  O silêncio das minhas palavras... Não tenho motivos Não tenho rimas O muito que sobra Dispenso na rotina do trabalho... Tornei-me o que desprezava O que era pecado nos outros Descobri-o em mim... Dentro de mim habitava a mentira Habitava o sarcasmo É fácil perceber o erro alheio Mas nunca percebemos os mesmos erros Em nós... Pequei alma cândida Pequei contra o céu e contra ti Meu erro me anulou E agora sou invisível Mas não por você Por mim Para aprender a domar essa fera Os sentimentos estão fora de controle Não os tenho debaixo da rédea de outrora São fortes, robustos, invencíveis Ou me entrego a eles Ou continuo lutando... Vou continuar lutando... Sou uma sombra agora Mas sombras aparecem somente se houver luz Fica a seu critério Manter a pouca luz acesa Ou apagá-la de vez...