Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2011

[Poema] Heterônimos

Imagem
Ninguém entende meus heterônimos São outros dentro de mim que querem viver E não se preocupam de viver dentro da minha vida São outros, de outras épocas, de outros sonhos São poetas e reis, são escravos e fuzileiros...são tantos... São espasmos corriqueiros São vontades e ventania São chuva e nevoeiro São torrentes, calmaria... São homens e mulheres São vidas passando a mil Contam-me histórias belas Tristes e alegres e constantes Outras com fim... Sou o escape Sou a mão deles Sou a vida deles Sou tudo para eles E nem sei quando sou eu Para mim... Não cobro aluguel Não cobro tributo Se querem ficar, fiquem Mas de vez em quando Deixem-me ser eu por um minuto...

[Poema] Aos Teus Pés (À Minha Esposa)

Imagem
Homem não chora Por várias vezes ouvi isso Mas como vou tirar do meu coração Esta dor tão pura e sincera? Com vou explicar que a sociedade Não aceita a exposição de um sentimento nobre? Não posso... Minhas lágrimas são como chuva Caindo no piano que você dedilhou Fazendo ecoar sons lindos e tristes Percebo que cada som tem teu sorriso Cada nota tem teu olhar... Não consigo continuar assim Não sei viver longe de você Você me acostumou muito Sinto-me dependente do teu abraço Sinto saudade do teu afago, do teu carinho... Fecho os olhos e lembro você brincando Sorrindo de algo que fizemos juntos Lembrar é como me maltratar Não sou masoquista, mas não tem outro jeito Mesmo que doa bastante Não posso negar ao meu coração essa lembrança... Não posso negar tudo que sinto por você É sincero, é  o que tenho de mais verdadeiro. Nunca disse isso a alguém antes Mas você me tem por completo. Meus pensamentos, Meu corpo, Meus desejos, Meus anseios, Estão todos dobrados aos teus pés... Em to...

[Poema] Dupla Personalidade

Imagem
Tomado por sua misantropia irrefreável O senhor corpulento e asqueroso Assina sua conduta com terror Não é homem, não é gente... Por sua vez o filantropo sadio Digno de pompa e respeito Conhecido por todos pela discrição Retém um segredo fantástico... Seu julgamento o transforma Não é mais um só, são dois Dentro de si carrega a maldade À noite a liberta de seu crivo... Não a litiga, é condescendente Faz parte da sua alma adulterada Sua fera liberta sem escrúpulos Ao tomar um gole de loucura... O monstro percorre pela neblina À caça de sorver a gélida embriaguez gratuita Para desordenar sua linearidade Tira uma vida brutalmente, um delito branco... A causa é concluída através da escuridão Sua sombra percorre as paredes descascadas Um vulto torto, mal-feito, retorcido No entanto uma testemunha o percebe... O criador, a princípio aliviado, Não vê mais gozo algum no seu alter ego insubordinado Não controla suas forças, suas transformações A bebida perde seu efeito mitigador... Tent...

[Poema] Oceano

Imagem
Instigado, olhos cerrados, respira A cálida face despende Mais um ao mar violento se atira... Nadar não sabe o varão intato Movimenta-se em desespero Quer ser admitido, integrado Mesmo sem a similar marca... Os oceanos são bravios, Ele prefere calmaria, Um mar sem vento A estibordo avesso... A tempestade vem e consome Devora tudo que se mostra. Sem ponderar se tolera Há um bote lá nas nuvens... Recorre a si num momento Vê-se como é de verdade Não através dos olhares parciais Amistosos e superficiais... Reconhece-se como singular Uma criação particular Com dígitos ímpares Olhares únicos Sensações díspares Temores túrgidos... É o que é Nada é por ele Ninguém é por ele Mas o oceano nada disso entende E o toma para si...

[Poema] Êxodo

Imagem
Borboletas como fagulhas do fogo Imersas em suas cores assustadoras Em cachoeiras oníricas implícitas Revoando por entre nimbos e cirros Alto como falcões de água... A pequena criança sonha Tornam-se reais seus pesadelos São os medos em cores vermelhas Rubros como um filete de sangue... Passa o tempo, já não está lá As horas tentam afogá-la. É outra, com outros costumes Em outras roupas que não são suas, O tempo lhe trouxe. Jazida no leito Em cobertura de neve siberiana... Levanta Cresce, eleva-se dentro de si Escala suas montanhas escarpadas Sobrepuja-se acima da aurora Encaminha-se, não sabe para onde Mas tem a convicção que não pode parar... Monta na borboleta de fogo domada Cujas asas batendo formam chamas imensas Cavalga acima da chuva torrencial Acima dos seus sonhos e medos                                                           ...

[Poema] Enigmas

Imagem
Pequenos fragmentos Impulsos elétricos aleatórios Formando uma grande rede. Juntam-se na ânsia de revelarem algo Não se sabe ao certo Se há motivo Um objetivo... Criam uma cadeia de símbolos Lógicos ou sem algum senso Jogam-se às grades Na esperança de serem coletados... Gira a grande roda caleidoscópica Há letras por todos os lados Buscando um par ou dois. Apegam-se ao que lhes lançam Formam sílabas em argamassa No princípio ou no seu fim... A cadeia por fim se junta e separa Transforma-se em enigmas Sentimentos em forma de versos Rimas em harmonia, ligadas, perfeitas. São tercetos, quartetos, Estrofes intermitentes Sonetos... Em outros cantos da área inóspita Miscelânias rotas, sem musicalidade Mas no fundo, através de discernimento Percebe-se que tudo faz sentido no furdunço. São poemas sem rimas, Mas mesmo assim poemas...

Cartas a um Jovem Poeta [Rainer Maria Rilke]

Está fora do meu padrão postar outras coisas que não sejam poemas ou contos, mas não pude me segurar para falar de um sujeito. Estive a me perder em palavras de um certo poeta chamado Rainer Maria Rilke. No caso li seu livro chamado Cartas a um Jovem Poeta . Deliciei-me ao consumir as cartas desta pessoa. A forma como ele trata a criação de um poema me instigou a escrever. Na primeira carta ele descreve a necessidade de se escrever poesia:  "O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo qu...

[Poema] Memento Mori

Imagem
Parte I Não podendo escolher Enfim cansado de se debater Do alto o homem se lança Sem ar, fôlego, esperança. Seu riso oculto invisível Seu ostracismo indizível Nada o impede do ato Pois ser livre não lhe era inato. Livre de si, de sua prisão Livre de qualquer razão Voar sem asas rumo ao chão. Livre das amarras apertadas Livre de sua culpa ocultada Enfim suas dores estavam acabadas. Parte II Dias de glória se passaram Suas histórias já não contavam Pois sujou toda sua obra E nada de bom já lhe sobra. Um furacão, o vento impetuoso Emoções voaram ao seu redor Lembrar-se do inverno vergonhoso Imputava-lhe mais e mais dor. O tempo se foi por entre os dedos Seus amigos já não estavam lá Revelados foram seus segredos. Impossível para alguém guardar Porque sempre martelava o seu medo De um dia sozinho novamente ficar. Parte III Não foi intencional tudo feito Uma brincadeira para rir Só que ninguém riu do efeito Que isso causou ao vir. Sempre as p...

[Poema] Gênesis

Imagem
Não são os olhos Não são as bocas Gracejos insossos alheios Ou um olhar cândido Em detrimento da obra. Não é por fora que cresço É por dentro. Através do mundo de recordações Das fugidias sensações Dos julgamentos escolhidos. O mundo não me cabe Não suporta minha liberdade Não é este mundo palpável É um mundo dentro de um mundo Infindável. Não sou do mundo Mas ele para mim. Não sou das rimas e estrofes Mas elas para mim. Meu instrumento de trabalho Da ilusão é o atalho. Materialismo profundo Numa alienação versificada Do trabalho sou nada Da poesia sou tudo.