[Poema] Dedução
Cai-me como chuva a necessidade
De escrever sempre e sempre
Poemas para que adormeças...
É tão implícito,
Tão inerente
Que sem querer
Ao falar,
Ao piscar dos olhos,
Ao respirar,
Estou me fazendo poema
Para ti...
Tento manter com a
alma
O que quase
aniquilaste.
O tempo passa
E cada dia
Eu crio uma nova
musa
Todavia com os teus traços
Os olhos morenos
A pele castanha
Estás impressa nelas
Feito estigma...
Minha atenção era
teu brinquedo preferido...
Faço um apelo como quem tem sede:
Lembra-te daquelas
tardinhas
De conversas
infinitas,
Quando te ouvia
Como quem ouve
música.
Quando o mundo era eterno,
Quando o tempo
Não passava de uma palavra
Sem sentido algum para nós.
Lembra-te.
Não tínhamos ciência
Do que era o tempo.
Notei a presença
dele
Ao contar as horas
Perceber os dias
Sofrer os meses
Em que não te vejo mais...
O interesse corrompe
a lei.
Tínhamos uma lei,
O nosso código.
O que era seguro
Apareceu-me
inconstante.
Uma casa sem base,
Uma equação sem xis,
Uma tela sem tinta.
Tudo desmoronou
No dia que fugiste de mim...
Levaste contigo
Nosso castelo numa
espiral
Que ascendia para
além do céu.
Os sonhos duplos,
Coniventes e
improváveis
Que eram um...
Nunca mais os vi
Nem os sonhos
Nem o castelo
Nem a ti...
Contudo algo perdura
Algo além de mim
Ou da minha
trajetória
Cujo fim é vida
Que me faz acreditar
Que ainda pensas em mim.
Que me prezas, mesmo distante.
Deixando-me deduzir ao final,
Que tudo ainda pode ser belo...
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