[Poema] Azul


Trouxeste-me de volta
Quando eu não tinha chão
Quando só havia não
Trouxeste-me de volta...

E o que me cabia?
Já dava por perdido o mundo
Havia aberto mão de tudo
Ninguém além de mim sabia...

Matreira a vida lançou-me por terra
Silêncio e ausência eram unos
Para baixo pendia o prumo
Vacilante eu perdia a guerra...

Parecia bem, julgavam os alheios
Risonho e alegre, não tinha rosto
Não era eu de verdade, mas o oposto
Por dentro me anulava, sem rodeio...

Essas rimas frouxas
Que nada explicam
Prendem meu grito
Algemam meu querer
E como isto é meu
E as palavras aqui
São junções ordenadas
Do que quero dizer
Vou dizer sem receio
Tudo o que há
Sem me prender

Por que me trouxeste?
O que te moveu?
Algo visceral?
Ou talvez solene?
Quiçá uma mera preocupação?

E me dizes que o passado
O passado é que te moveu
E agora vêm uma torrente de verdades
Verdades estas que eu desconhecia...

E me constranges
E faze-me chorar...

Já fui brinquedo
Por causa tua
Nunca te disse...

Já fui bandido
Por causa tua
Também não disse...

E me modifiquei
Feito vírus eu não cessava
Se alguém pedia
Eu não parava
Não tinha regras
Eu me arrependo...

Meu mundo sólido
Começou a se desfazer
Ante um dilúvio.
Os fundamentos se arquearam
Meus ícones se extinguiram
O chão se exonerou
A água se elevou
E eu não sabia nadar...

E a água vencia
Submerso eu me rendia
Quando dava adeus ao mundo
Uma mão me puxou...

Trouxeste-me de volta
Quando eu não sabia nadar
Quando eu não sabia voltar
Trouxeste-me de volta...

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