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Mostrando postagens de 2011

[Poema] Esperança

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Tuas palavras me aliciavam Tornavam-me algo que não sou No entanto dava crédito a cada afago Palavras pictóricas queimadas no fogo Em cima de brasas vivas... Mantinha-te em castelo doirado Adornada e adorada sem medida Teu riso no altar era verdadeiro Tua voz reverberava uma paixão sincera Teu carinho escondido me alimentava Não necessitava de mais nada Somente bastava estar ao teu lado... Desconheço em que momento te perdi Que gestos ou que equívocos pratiquei Hoje o vento sopra para o lado contrário Um vento gélido que me toca a espinha Eriça meus pêlos e minha alma O tempo passa e me vejo refém Refém do meu próprio sequestro... Um prisioneiro em calabouço negro Marcado pela solidão e o desespero Jogado no fundo do teu pensamento Sem saber onde ou como você está Esquecido do teu livro chamado lembrança Personagem arrancado da tua história... Mas isso não acaba assim... Nunca pode acabar dessa forma Sem conhecermos o que nos atingiu Sem perceber a proporção que isso machuca Esto...

[Poema] Silêncio

Estás aí Estou convicto. Mantendo teu silêncio Na intenção de olvidar A sequencia dos fatos... Queria dizer-te: Somos pequenos, Somos falhos, Somos loucos Somos poucos Para uma vida curta... Permaneço a escrever Sempre em ti pensando Meu rastro deixando Querendo que me siga E que por fim me encontre... Meus versos permanecem teus Meus melhores poemas São inspirados em ti. São capturados das cartas Do nosso contato diário Nestes dias tão esquecido Contudo por mim relembrado... Em minhas orações teu nome está Pedindo a Deus para te guardar. Não te esqueças do anjo que a ti enviou... Lembras da viagem que empreitamos? Lembras do sonho que te propus? Segurei tua mão e planamos longe E nunca voltaríamos à terra, supus... Queria escrever acerca de outras paragens Sobre a tua Irlanda e o teu Egito Sobre o cavalo branco no qual voamos Sobre o navio no qual navegamos Sobre as aventuras que juntos passamos No entanto na tela branca só vejo teu nome... Batalhei com minhas forças A princíp...

[Poema] Pássaro Raro

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Eu precisei de você hoje Mas não vi, nem te ouvi Senti falta dos teus conselhos Senti falta do afago gostoso Que você me faz com as palavras O carinho distante Que é presente A atenção devotada Para um desconhecido  Agora conhecido, eu. Algum tempo não nos falamos Através dos nossos códigos Parecem sem sentido Você diz não ter assunto Sempre deixa pra depois. Eu me prendo no que você diz Não consigo dar, se não recebo Mas estou tentando amar agora Nem que seja por nós dois. Estou vivendo a nossa vida Eu te chamo, você não responde Sempre atarefada, saindo sempre Sem dizer para onde. Correndo tresloucada Parece que tentando esquecer Que estou aqui presente Sempre pra você. E mesmo só, neste lugar Sem muito o que falar A Deus eu oro. E peço a um pássaro raro  Que mande uma mensagem em poema Dizendo o quanto eu te adoro.

[Poema] Heterônimos

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Ninguém entende meus heterônimos São outros dentro de mim que querem viver E não se preocupam de viver dentro da minha vida São outros, de outras épocas, de outros sonhos São poetas e reis, são escravos e fuzileiros...são tantos... São espasmos corriqueiros São vontades e ventania São chuva e nevoeiro São torrentes, calmaria... São homens e mulheres São vidas passando a mil Contam-me histórias belas Tristes e alegres e constantes Outras com fim... Sou o escape Sou a mão deles Sou a vida deles Sou tudo para eles E nem sei quando sou eu Para mim... Não cobro aluguel Não cobro tributo Se querem ficar, fiquem Mas de vez em quando Deixem-me ser eu por um minuto...

[Poema] Aos Teus Pés (À Minha Esposa)

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Homem não chora Por várias vezes ouvi isso Mas como vou tirar do meu coração Esta dor tão pura e sincera? Com vou explicar que a sociedade Não aceita a exposição de um sentimento nobre? Não posso... Minhas lágrimas são como chuva Caindo no piano que você dedilhou Fazendo ecoar sons lindos e tristes Percebo que cada som tem teu sorriso Cada nota tem teu olhar... Não consigo continuar assim Não sei viver longe de você Você me acostumou muito Sinto-me dependente do teu abraço Sinto saudade do teu afago, do teu carinho... Fecho os olhos e lembro você brincando Sorrindo de algo que fizemos juntos Lembrar é como me maltratar Não sou masoquista, mas não tem outro jeito Mesmo que doa bastante Não posso negar ao meu coração essa lembrança... Não posso negar tudo que sinto por você É sincero, é  o que tenho de mais verdadeiro. Nunca disse isso a alguém antes Mas você me tem por completo. Meus pensamentos, Meu corpo, Meus desejos, Meus anseios, Estão todos dobrados aos teus pés... Em to...

[Poema] Dupla Personalidade

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Tomado por sua misantropia irrefreável O senhor corpulento e asqueroso Assina sua conduta com terror Não é homem, não é gente... Por sua vez o filantropo sadio Digno de pompa e respeito Conhecido por todos pela discrição Retém um segredo fantástico... Seu julgamento o transforma Não é mais um só, são dois Dentro de si carrega a maldade À noite a liberta de seu crivo... Não a litiga, é condescendente Faz parte da sua alma adulterada Sua fera liberta sem escrúpulos Ao tomar um gole de loucura... O monstro percorre pela neblina À caça de sorver a gélida embriaguez gratuita Para desordenar sua linearidade Tira uma vida brutalmente, um delito branco... A causa é concluída através da escuridão Sua sombra percorre as paredes descascadas Um vulto torto, mal-feito, retorcido No entanto uma testemunha o percebe... O criador, a princípio aliviado, Não vê mais gozo algum no seu alter ego insubordinado Não controla suas forças, suas transformações A bebida perde seu efeito mitigador... Tent...

[Poema] Oceano

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Instigado, olhos cerrados, respira A cálida face despende Mais um ao mar violento se atira... Nadar não sabe o varão intato Movimenta-se em desespero Quer ser admitido, integrado Mesmo sem a similar marca... Os oceanos são bravios, Ele prefere calmaria, Um mar sem vento A estibordo avesso... A tempestade vem e consome Devora tudo que se mostra. Sem ponderar se tolera Há um bote lá nas nuvens... Recorre a si num momento Vê-se como é de verdade Não através dos olhares parciais Amistosos e superficiais... Reconhece-se como singular Uma criação particular Com dígitos ímpares Olhares únicos Sensações díspares Temores túrgidos... É o que é Nada é por ele Ninguém é por ele Mas o oceano nada disso entende E o toma para si...

[Poema] Êxodo

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Borboletas como fagulhas do fogo Imersas em suas cores assustadoras Em cachoeiras oníricas implícitas Revoando por entre nimbos e cirros Alto como falcões de água... A pequena criança sonha Tornam-se reais seus pesadelos São os medos em cores vermelhas Rubros como um filete de sangue... Passa o tempo, já não está lá As horas tentam afogá-la. É outra, com outros costumes Em outras roupas que não são suas, O tempo lhe trouxe. Jazida no leito Em cobertura de neve siberiana... Levanta Cresce, eleva-se dentro de si Escala suas montanhas escarpadas Sobrepuja-se acima da aurora Encaminha-se, não sabe para onde Mas tem a convicção que não pode parar... Monta na borboleta de fogo domada Cujas asas batendo formam chamas imensas Cavalga acima da chuva torrencial Acima dos seus sonhos e medos                                                           ...

[Poema] Enigmas

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Pequenos fragmentos Impulsos elétricos aleatórios Formando uma grande rede. Juntam-se na ânsia de revelarem algo Não se sabe ao certo Se há motivo Um objetivo... Criam uma cadeia de símbolos Lógicos ou sem algum senso Jogam-se às grades Na esperança de serem coletados... Gira a grande roda caleidoscópica Há letras por todos os lados Buscando um par ou dois. Apegam-se ao que lhes lançam Formam sílabas em argamassa No princípio ou no seu fim... A cadeia por fim se junta e separa Transforma-se em enigmas Sentimentos em forma de versos Rimas em harmonia, ligadas, perfeitas. São tercetos, quartetos, Estrofes intermitentes Sonetos... Em outros cantos da área inóspita Miscelânias rotas, sem musicalidade Mas no fundo, através de discernimento Percebe-se que tudo faz sentido no furdunço. São poemas sem rimas, Mas mesmo assim poemas...

Cartas a um Jovem Poeta [Rainer Maria Rilke]

Está fora do meu padrão postar outras coisas que não sejam poemas ou contos, mas não pude me segurar para falar de um sujeito. Estive a me perder em palavras de um certo poeta chamado Rainer Maria Rilke. No caso li seu livro chamado Cartas a um Jovem Poeta . Deliciei-me ao consumir as cartas desta pessoa. A forma como ele trata a criação de um poema me instigou a escrever. Na primeira carta ele descreve a necessidade de se escrever poesia:  "O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo qu...

[Poema] Memento Mori

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Parte I Não podendo escolher Enfim cansado de se debater Do alto o homem se lança Sem ar, fôlego, esperança. Seu riso oculto invisível Seu ostracismo indizível Nada o impede do ato Pois ser livre não lhe era inato. Livre de si, de sua prisão Livre de qualquer razão Voar sem asas rumo ao chão. Livre das amarras apertadas Livre de sua culpa ocultada Enfim suas dores estavam acabadas. Parte II Dias de glória se passaram Suas histórias já não contavam Pois sujou toda sua obra E nada de bom já lhe sobra. Um furacão, o vento impetuoso Emoções voaram ao seu redor Lembrar-se do inverno vergonhoso Imputava-lhe mais e mais dor. O tempo se foi por entre os dedos Seus amigos já não estavam lá Revelados foram seus segredos. Impossível para alguém guardar Porque sempre martelava o seu medo De um dia sozinho novamente ficar. Parte III Não foi intencional tudo feito Uma brincadeira para rir Só que ninguém riu do efeito Que isso causou ao vir. Sempre as p...

[Poema] Gênesis

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Não são os olhos Não são as bocas Gracejos insossos alheios Ou um olhar cândido Em detrimento da obra. Não é por fora que cresço É por dentro. Através do mundo de recordações Das fugidias sensações Dos julgamentos escolhidos. O mundo não me cabe Não suporta minha liberdade Não é este mundo palpável É um mundo dentro de um mundo Infindável. Não sou do mundo Mas ele para mim. Não sou das rimas e estrofes Mas elas para mim. Meu instrumento de trabalho Da ilusão é o atalho. Materialismo profundo Numa alienação versificada Do trabalho sou nada Da poesia sou tudo.

[Poema] Sonho

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Tudo que sonho é sonho Um sonho caro de se pagar Pois não há quem o possa requerer A não ser eu. Sonho e sonho só No anelo oco de ser o que não sou. No sonho sou mais que muralhas Sou mais que limites, mais que grilhões. Sou tal qual Peter Pan Garoto perdido que pode voar. Sou desgarrado. Um vírus, bactéria mutável. Em sonhos é irreal o impossível Tudo se torna laboriosamente tangível . Na caldeira o corpo se lança A alma pequena ante isso dança Num redemoinho complexo Corpo e alma desconexos. Como disse Fernando Em palavras do meu feitio: O meu mar dá-me saudade Do mar alheio. O mar que vejo todo dia Cujo horizonte é pouco Faz-me sentir saudades Dos mares que nunca verei. Passado? Quem não o tem atire a priori Passado de honra ou desonroso? Sem virtude ou virtuoso? O círculo vicioso O rabo na boca. São quimeras, deveras sandices Príncipes em vãs cavalgadas Tristeza e covardia emparelhadas São momentos meus de criancice. Um sonho é tudo que resta. Abram minha mente Estuprem meus...

[Conto] Sentimentos

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Capítulo 1 Minha irmã, mais velha que eu, iria se casar. Isso punha a casa em polvorosa. Minha mãe vivia descabelada, meu pai somava as dívidas que faria alugando o espaço para a festa, o aluguel do vestido de noiva, o buffet, os ternos... E nisso ninguém me percebia. O mundo naquele momento girava em torno do casamento da primogênita, Gleice. Eles todos corriam em forward, enquanto eu em slow. O que podia aproveitar como algo bom de tudo aquilo era o fato de poder andar livremente pela casa sem ter que ouvir as piadinhas sem graça que Gleice proferia. Ela não perdia a oportunidade de gracejar de mim. Riu quando fiz o bigode pela primeira vez, ou quando leu meu primeiro poema. Não era para ninguém especial, mas ela mostrou para minha mãe dizendo que eu havia feito para uma garota e que estava apaixonado. Na verdade eu fiz aquele poema para uma personagem de um livro, nada demais. No dia do casamento... Era uma tarde ensolarada de primavera onde pássaros cantavam e flo...